6 de julho de 2010

Cidade (não tão) Maravilhosa

    A semana havia começado a apenas dois dias, era um dia comum no Rio de Janeiro, o Sol estava castigando aqueles que humildemente ousavam a se arrastar debaixo de sua calorosa majestade, praticamente insuportável.
    Por volta das 13h, ela se deslocava de onde estava para poder procurar algum lugar com ar refrigerado para comer e descansar, o dia estava apenas pela metade, a ainda havia mais com o que gastar energia, embora talvez não houvesse nela energia suficiente para isso.
    Enquanto almoçava, ela pensava o quanto seria difícil chegar até a noite sem nem 15 minutos de cochilo, mas sabia que não haveria remédio, como todos os últimos 90 dias de sua vida, aquele não seria mais curto que os outros, nem menos cansativo, o que ela não sabia é que o destino havia resolvido mostrar-lhe um pouco mais de realidade.
    Por volta das 17h ela ouve barulhos de tiro, muitos tiros sendo disparados... O motorista do ônibus em que ela se encontrava decidiu percorrer outro caminho, um pouco mais afastado da mira das metralhadoras e armas potentes do que pode ser considerado legal e do que pode se considerado ilegal... Naquele momento ela sentiu medo, pena, raiva, vontade de gritar, mas a frustração de não poder fazer nada em relação aquilo naquele momento, fez que houvesse um silêncio, silêncio geral... Ninguém falou nada! O que mandava naquele momento era o medo, o pavor, a violência e a morte.
    Por mais desviado que fosse o caminho, as vezes no Rio de Janeiro, não existem muitos lugares que possam servir como desvio, e o motorista teve que passar perto demais daquela confusão... Haviam corpos, corpos de pessoas, seres humanos, jogados no chão, desprezados... Certos ou errados, ninguém ali teve uma segunda chance, ninguém mereceu ser perdoado... A lei e a contra-lei estavam em confronto mais uma vez, morriam inocentes, culpados... Quanto sangue havia naquele chão! Quantos gritos cabiam naquele momento!
    "Desse ponto de vista, a cidade maravilhosa nem é tão maravilhosa assim", pensou ela, com medo, com pena... Sem perceber, já haviam passado 01h30min do momento em que a confusão havia começado, todos estavam atrasados, inclusive ela, mas ninguém na verdade prestava atenção nesse detalhe, o que importava era sair dali.
    A partir daquele dia, ela que amava a cidade onde mora, passou a temê-la, e já não olha para o alto com a mesma naturalidade, pensa que sempre pode ouvir os mesmos barulhos, ver as mesmas manchas de sangue, sentir o mesmo medo.




Andrezza Mascarenhas

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