6 de julho de 2010

Adeus Lady

   Dia 26 de dezembro de 1995 ela chegou, eu que sempre fui muito mimada, dormi chorando porque a promessa feita pelo meu pai foi que ela chegaria na manhã do dia 25, no Natal.
    Ela não era branquinha como eu havia pedido, e eu acordei com seus gemidos de filhote... Nem liguei para a mudança da cor, era a coisa mais linda, peluda e gorda que eu já havia visto em toda a minha vida, os olhos dela brilhavam de verdade e ela veio correndo brincar comigo.
    Eu sempre fui muito alérgica, mas mesmo assim era comigo que aquela bolinha de pêlo dormia... Seu nome ia ser Pretinha, mas a minha bábá na época era apaixonada pelo ridículo do Roberto Carlos, e ficava cantando "Lady Laura" a tarde toda... Umas três semanas depois que aquela coisa linda chegou, eu decidi chamá-la de Lady.
    Logo de começo ela já nos deu um susto! Antigamente a vacina que hoje é dada em três doses, era dada de uma vez só e o filhote precisava ter 3 meses completos, mas a Lady não tinha nem 45 dias, e a gente não sabia (assim como só ficamos sabendo que ela não era Toy quando ela ficou enorme, rs), o veterinário estranhou o tamanho dela, a ausência de dentes, mas ainda assim aplicou a vacina, Marcelo, o nome da criatura! Lady não reagiu bem, pensamos que ela ia morrer, mas ela ainda tinha uma missão a cumprir aqui, e resistiu a pancada da vacina precoce (minha mãe dava papinha, leitinho, mucilon, etc etc etc).
   O tempo foi passando, a Lady foi crescendo e foi se mostrando uma cadela ímpar! Ela era super inteligente, só faltava falar, como dizia a maioria dos meus familiares... Ela sabia abrir porta, sabia pedir comida, sempre fez sujeira no jornal, se não tivesse jornal, ela pedia pra ir a rua... Era a cadela perfeita... Mais ainda quando eu fazia besteira e minha mãe vinha com o chinelo, e ela se metia no meio e mostrava logo os dentes, rs.
    Uma vez minha mãe viajou (isso era bastante comum), e eu sentia muito a ausência da minha mãe a ponto de ter febre emocional... A Lady ficou comigo a noite toda, sentada no chão e com a cabeça apoiada na cama, como ela costumava fazer quando observava alguém deitado.
    Eu sempre disse que a Lady era a cachorra da minha mãe... Ela sentia uma paixão pela minha mãe, a ponto de chorar quando ia dando a hora dela chegar e ela não chegava... Ela sentia meu cheiro do portão quando eu estava chegando da escola, corria para avisar a minha mãe ou a minha bábá... E foi ela a grande culpada do meu pai saber que eu beijo na boca, rs... Eu disse que ia na esquina comprar sanduíche e demorei um pouco, meu pai saiu com ela para me procurar e ela o levou exatamente onde eu estava, beijando.
    Infelizmente, nada na vida é eterno e as coisas boas parecem que acabam mais rápido! Aos pouquinhos minha poodle preta super inteligente foi ficando velha, perdendo os dentes, teve dois tumores (um na mama e outro no útero), e por fim ficou senil e com vários tumores no cérebro... Parecia perdida, não era mais a minha bolinha de pêlo animada, super inteligente e carinhosa, era um esqueleto coberto de pele que transitava pelo espaço que conseguia dando com o focinho em tudo pela frente.
    Depois de várias convulsões, paradas cardíacas e massagens no peito feitas pelo Diego, no dia 12 de março de 2O1O, eu e meu pai saímos de casa para levá-la para sacrificar, mas eu e ele somos dois frouxos e escolhemos cuidar dela com os remédios que o veterinário passou... Ela brigou sexta, sábado, domingo e na Segunda-Feira, dia 15 de março de 2O1O, minha mãe a encontrou morta na área aqui de casa, mas ela não sofreu nada para morrer, porque não estava suja.
    Algumas pessoas podem me achar uma completa imbecil por chorar, sentir saudades e sofrer pela perda da minha cadelinha, mas ela a mim foi mais fiel, amiga, companheira que muitos seres humanos... A Lady nunca foi apenas uma cadela, ela sempre foi parte da nossa família.
    Se eu pudesse dizer algo que ela pudesse entender, eu diria "obrigado, você me mostrou que amor se sente e não precisa ter explicação, eu te amo", mas infelizmente eu chorava tanto que nem "adeus" eu consegui dizer.
    Agradeço ao meu pai, minha mãe, ao Diego, a tia Inês, ao Thiago, a minha irmã e a todos que me ajudaram em um dos dias mais difíceis da minha vida, o dia em que eu dei adeus a mais que uma cadela, a mais que um corpo, o dia em que eu dei adeus pra sempre a uma melhor amiga.

Andrezza Mascarenhas

"cuide bem do seu amor, seja quem for"

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