6 de maio de 2011

Dois Dias

  Atrás da porta eu confessei dois dias de loucura e trinta de lucidez. Como crime, sem culpa, esqueci as formalidades quanto aos assuntos do coração. Estive aqui por um momento e me deixei levar, de algum lugar do paraíso, vi meu mundo perfeito chorar. Clamei por Deus, e meus olhos não puderam ver, não vi a montanha se curvar ao vento, mais vi um rio contornar um monte, vi o amor nascer nas coincidências mais improváveis, olhei aos olhos do tempo e declarei clemência, fiz uma tatuagem nos sentidos da emoção.

  Ante as traições do passado, me enclausurei nas angustias, assumi saudade das boas lembranças. Reconheci o coração contradizer a razão, das minhas loucuras conscientes, carrego na alma o perfume da vida nascido do milagre biológico divino. Presenciei o orgulho destruir nações, diagnosticado pela experiência lógica emocional, falei dos segredos que revelam a loucura, me perdi pra me achar e confessei olhar pra trás e cuspir na cara do tempo padronizado pela perspectiva hipócrita, enfadado a uma existência sem questionamentos, carregando os sonhos de Ícaro, sonhando encontrar meu herói oculto, esperando alforria fui comprado, vivi dois dias de paz em meio às guerras de minha lucidez.


Ricardo Oliveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário