1 de fevereiro de 2011

(Sobre)viver

Nascer é dadiva em qualquer lugar, a qualquer hora
Mais valiosa, quando não se nasce de um ventre qualquer
A dor começa junto com o parto, que natural ou não, dói cá e lá
O mistério não é começar a vida, e sim dar continuidade ao percurso
Jogar-se a vida sem medo é a mais pura execução da coragem
De modo que ser algum que (sobre)vive pode ser dado como covarde
Visto que (sobre)viver é um desafio, desistir é morrer-se, a maior das covardias
Correr ao lado dos sentimentos é entrega, maldade, filantropia ou egoísmo 
De forma que todo ser que ama, não ama ao próximo como a si mesmo (reza pronta)
E sim de forma desproporcional para mais ou para menos, descabidamente
Apegar-se pouco é preciso, agarrar-se a tudo é necessário
Não ter raiz enfraquece qualquer coisa, não há de onde tirar reservas
No entanto, ao que se enraíza demais, dá-se o nome de pa-ra-si-ta
A vida começa dentro d’água e termina debaixo da terra
Depois de nascer e antes de morrer, o tempo suportável nos dois ambientes é finito
Viver é sonhar, voar alto com os pés fincados no chão
Quem muito sonha não vive, e quem vive demais não constrói sonhos
A dor trás o fogo do inferno, saudade da proteção do ventre materno
Ninguém lembra, mas quando dói, é pra lá que todos querem voltar
Posição fetal, refúgio, atenção, mais de um coração batendo num corpo
Se todo corpo tivesse mais de um coração seria mais fácil viver e perpetuar-se
Um se encarregaria de bater, da necessidade de viver, o outro de sentir, e da vontade de morrer 
É bem verdade que viver contradiz qualquer regra bem aplicada 
Nada justifica o fato de nascer pré-propositado a morrer, engole-se isso
Deram limites para todas as coisas, e quando demarcaram, não usaram régua 


Andrezza Mascarenhas

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