14 de janeiro de 2011

Quê saudade!

  Faz tanto tempo que não sento aqui pra conversarmos, que o sofá não tem mais o cheiro do meu perfume azedo, de quem vive no limite de todos os sentimentos... Muitas coisas mudaram, mas eu continuo a mesma pequena gigante que abraça o mundo com os dentes.
  Não tenho mais medo do amor, e até acho que um dia voltarei a dar credito as suas promessas de eternidade limitada, mas por enquanto me entrego desconfiada. Voltei a chorar sem motivo, comer carboidratos e depois me arrepender, tomar uns pileques e me entupir de remédios que recuperem o fígado pra próxima, a torrar ao sol só pra ver a pele dourar e perder a cor em escamas, como um peixe... Retomei o ritmo ameno, irresponsável e juvenil de viver que havia interrompido. Achei minhas gargalhadas, e com elas, a minha capacidade de fazer graça até com a cara da morte, e não perdi meu tom dramático.
  Nem tudo mudou pra melhor, afinal – essa vai por mim – a vida é agridoce. Antes era bom sentir o cheiro da chuva, agora toda vez que sinto o cheiro de terra molhada, tenho medo que molhe demais e se desfaça. A cidade que serviu de cenário para perpetuação da minha vida, resumiu-se a um enorme monte alto de lama. Algumas pessoas continuam tentando ocupar lugares que jamais serão delas novamente, e não entendem que uma vez que digo “não”, isso se torna permanente. A morte não se conforma com a proposta de trégua que venho tentando fazer, e continua tirando daqui as pessoas que eu preciso por perto... Aos poucos supero, mas o tempo só tem prestado pra aumentar a saudade.
  Enfim, o que importa mesmo é que senti saudade das sinestesias que esse lugar me proporciona e estou de volta, numa versão 21x melhor de mim.

Andrezza Mascarenhas

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